9 de março de 2010

“O INFERNO É O OUTRO”

Nossa vida tem se tornado tão vulnerável, simples, indefesa, pequena, passageira, entre outros adjetivos semelhantes. Entretanto, o que mais me incomoda é a forma com nós a estamos tratando, a forma como estamos cuidando dela. Nada é mais triste do que ver a banalidade da nossa vida atualmente.

Assim, estamos diante de um mal que atinge a todos, pois nos tornamos descartáveis para si e também para o outro. Perdeu-se o valor de um abraço, de um sorriso, enfim parece-me que não há mais espaço para confiança, lealdade, companheirismo. Nossos olhos só vêem o outro como competidor, como concorrente, como adversário. Por isso, o inferno não me parece um lugar longínquo e distante, mas algo próximo, algo que mora dentro de nós mesmos, como se guardássemos um cantinho para ele dentro de nosso ser. E quando menos esperamos, ele vem à tona. Tornando-nos vorazes, ferozes raivosos, quase seres irracionais. Deste precedente surgem a violência, o ódio, o egoísmo, a vingança, a destruição.

Por conta disso, o mal atinge a todas as camadas, a todos os gêneros, a todas as classes. Ninguém está isento de ser vítima ou ser autor de atos violentos. Nossas atitudes são reflexos de nossa história social, de nossos princípios, de nosso caráter. Cada um tem de nós tem guardado um lado obscuro, um lado sombrio, semelhante a um gigante adormecido. E quando menos esperamos, tomamos atitudes brutas, desumanas, irracionais. Por quê? Por quê?

Vem-me agora na mente a notícia que via no jornal: Um pai trancafiar a filha por vinte e quatro anos, e, além disso, ainda gerar sete filhas nessa jovem, ou seja, cometer um incesto. Onde vamos parar? Onde queremos chegar com isso? Será que somos seres que nascemos bons e pacíficos? Ou já trazemos dentro de si, as mais diversas misérias humanas, as mais horrendas chagas da vida? Somos humanos ou mutantes? Onde foi parar a compreensão, a fraternidade, o companheirismo, a amizade? Onde escondemos nosso caráter, nossos princípios? Devem estar perdidos em algum lugar longínquo, distante, deserto, inalcançável...

O inferno faz parte do nosso cotidiano, mora bem perto de nós, anda conosco sempre. Parece-me que não existe mais nada que possa nos surpreender, nada mais é trágico. Tudo virou banal. Você está banal. Eu também estou. Ser do bem está fora de moda, fazer o bem é brega. Ser feliz virou pecado. Que pena! Já morremos e ninguém nos avisou. As brasas do inferno já tocam nossos pés, e ninguém sabe como apagar ou vencer esse fogo. Resta-nos imaginar que um dia acordaremos desse pesadelo, e vermos que a vida, como diz a música: ainda “é bonita, é bonita, é bonita”.

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