A tragédia sem fingimento.
O ENEM só chamou atenção do Brasil depois que se transformou em uma
forma nova de vestibular. Quando tinha a finalidade apenas de medir a qualidade
do ensino médio o ENEM recebia pouca importância. Desta vez, porém, o resultado
foi tão gritante, que além de substituir o vestibular o Brasil está percebendo
os resultados negativos que o ENEM mostrou para a situação do ensino médio no
Brasil. Situação que é pior do que aparece, porque só os melhores alunos fazem
o ENEM: não fazem o ENEM aqueles que ficaram para trás por não terem condições
de nem ao menos se submeterem ao exame, porque não têm condições, interesse ou
nem sabem que o ENEM existe.
Entre os seis milhões de nossos melhores alunos do ensino médio, os que
fizeram o ENEM, 500.000 tiraram nota ZERO na redação, apenas 200 tiraram a nota
máxima. Mais grave é a baixíssima nota média dos alunos em cada setor avaliado.
A educação do Brasil foi reprovada em todos os setores. Ainda mais grave, em
alguns destes setores houve uma piora do ano passado para este. Mais grave
ainda, as exigências de educação crescem de um ano a outro e nossa qualificação
piora. Muito mais grave, não percebemos a gravidade. Os empresários não
percebem as consequências disso para a produção por falta de trabalhadores
qualificados, os donos de jornais não percebem que ficam sem leitores. O Brasil
inteiro perde.
Felizmente, uma coisa positiva deste ENEM, o ministro Cid Gomes disse,
pela primeira vez deste 2004, que não dá para fingir. Até aqui os ministros
avaliavam a tragédia positivamente, dizendo que já foi pior.
Ao dizer que não dá para fingir, ele abre a esperança de que vai apresentar proposta para o Brasil superar sua tragédia.
Ao dizer que não dá para fingir, ele abre a esperança de que vai apresentar proposta para o Brasil superar sua tragédia.
(Cristovam Buarque – 14/01/2015)
Um comentário:
Muito bom o texto, não só esse como também outros que li logo abaixo desse. Peço permissão para postar no face.
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