'Língua está virando um dialeto confuso', comenta Alexandre Garcia
Mais de 500 mil alunos tiraram nota zero na redação do Enem. Para
analista,' Isso é resultado de muitos anos de falta de leitura', diz.
Para tirar zero em redação, muitos nem chegaram a escrever. Tirar zero
em redação não é algo que se consiga de um ano para outro. Isso é resultado de
muitos anos de falta de leitura e falta curiosidade que aprimoram a ferramenta
da comunicação, que é a língua, e o conteúdo dela, que é o conhecimento. Sem
conteúdo, é o vazio. E com vazio não se faz um cidadão nem um país e muito
menos uma redação. Quase 10% de nota zero e apenas 0,004% de nota máxima não
são boas notícias.
Os empregadores no Brasil têm uma grande queixa: as pessoas não entendem
as instruções e não conseguem se expressar com clareza. E a língua, que é uma
das bases da nação tanto quanto o território, está virando um dialeto confuso
em que dá bom dia a todos e todas. Chama a presidente de presidenta, com
modismos horríveis como ‘vou estar fazendo’, ‘o governador ele disse’ e outras
esquisitices.
Com falta de leitura, o vocabulário é limitado, e aí se usam palavras
mais compridas para ter tempo de achar a palavra seguinte. Avião virou
aeronave, fim de semana virou final de semana, vender é comercializar, oferecer
virou disponibilizar, ver virou visualizar, crime é criminalidade, arma virou
armamento.
E ainda se apoiam em muletas da língua: não se veste a camisa e não se
calça o sapato, apenas se coloca. Passageiro, hóspede, paciente, frequentador,
virou usuário. A nossa língua já é muito pouco conhecida no mundo, mas ser
pouco conhecida no nosso próprio país isso nos emudece um pouco.
Alexandre Garcia
(Edição do dia
14/01/2015 08h51 - Atualizado em 14/01/2015 10h13 – Bom dia Brasil)
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